A “Acessibilidade para pessoas com deficiência” é o tema desta conversa.
Tendo em conta o tema, a acessibilidade, opto por direcionar para questões de mobilidade reduzida no espaço urbano, que é uma categoria muito abrangente e que afecta uma parte muito significativa da população portuguesa.
Não. Basta fazermos um exercício simples: passearmos com um carrinho de bebé por Lisboa, pelas ruas e pela sua rede de transportes públicos. Se o esforço é já aí imenso e fatigante, há etapas absolutamente intransponíveis para um indivíduo que se desloque numa cadeira de rodas, por exemplo.
A gestão do espaço urbano sempre passou pelo estabelecimento de linhas divisórias que seleciona uns para um lado e outros para o outro (apto/inapto). Já houve o tempo das grandes epidemias (e que está sempre latente: do ébola, à guerra biológica), mas hoje, uma das maiores provações europeias é o desemprego. É uma questão que se agudiza para um indivíduo com mobilidade reduzida, mesmo que temporariamente, ou para um indivíduo com qualquer tipo de limitação perceptiva.
Já existem algumas empresas que respeitam e têm consciência das necessidades para o acolhimento de trabalhadores com mobilidade reduzida. Há várias infraestruturas a pensar: das fixas, que compreendem a acessibilidade, e as infraestruturas semifixas, como o mobiliário e os dispositivos para o exercício da função. Porém, é toda a sociedade que tem de estar preparada para a inclusão.
Uma rede. Assumir que a cidade é uma rede e que todos os objetos, indivíduos e máquinas são vasos comunicantes. O espaço urbano é um campo físico e metafísico, em que todos estamos em ação e circulação. E é com mais técnica que se dará uma inclusão. Os transportes, por exemplo, são uma das formas de cartografar uma parte dessa rede. Mas entende-la é perceber que os transportes não se limitam aos veículos, e compreendem também as suas plataformas de acesso, que são tanto reais como virtuais, isto para além do espaço urbano que circunjaz a esse acesso, e que tem de estar claramente desimpedido. Pois a chave da mudança está na formação e na cultura.
A educação e a cultura permitem a possibilidade e capacidade de criar novas comunidades, projetar novas experiências, re-imaginar problemas e conceber novos objetos. Só pela educação e pela cultura é que se formam pessoas capazes de individuar os processos, de resistir às tensões e de intervir no mundo.
Catarina Patrício (n. 1980) é professora auxiliar no departamento de Arquitetura da ECATI-ULHT e investigadora do Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens em Pós-Doutoramento, sob o título «Smart-City: Cinema, Utopicidade e Governamentalidade na Cidade Pós-Industrial», uma investigação financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia. Catarina Patrício é formada em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (2003), mestre em Antropologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (2008), onde realizou doutoramento em Ciências da Comunicação (2014), especialidade em Cultura Contemporânea e Novas Tecnologias. Foi bolseira de doutoramento da FCT (2010-2014) e bolseira do Programa Gulbenkian de apoio às artes (2015).Tem ensaios publicados em livros e revistas internacionais, organizou ciclos de conferências e coordenou exposições. Catarina Patrício desenvolve a sua atividade entre a prática artística, o ensino e a investigação científica.