“Falhar é uma forma de aprendizagem e não devemos ter medo de tentar várias vezes”
O Professor Pedro Alves é doutorado em Engenharia Informática pelo Instituto Superior Técnico (IST) e lecciona na ULHT desde o início deste ano lectivo de 2014/15. É responsável pelas UCs de Linguagens de Programação II e Sistemas Embebidos, leccionando tambem práticas de Linguagens de Programação I e Engenharia de Software.
Começando pelo lado positivo, gostei de sentir, em muitos alunos, curiosidade e vontade de aprender. Claro que esta curiosidade deriva da capacidade do professor em cativar os alunos, algo que pode ser um grande desafio! Tento aproveitar a minha experiência fora da universidade para lhes dar exemplos concretos daquilo que estão a aprender, e como provavelmente irão aplicar na sua vida profissional. O mais difícil talvez seja incutir-lhes valores que nada têm a ver com conhecimentos técnicos mas que são tão ou mais importantes hoje em dia: pontualidade, honestidade, espírito de equipa, sentido de responsabilidade, etc.
Antes da Lusófona, e tirando 6 meses que lecionei noutra universidade, a minha experiência foi exclusivamente no desenvolvimento de projetos informáticos em diversas empresas, pelo que a diferença é enorme. Mas sempre gostei de ensinar – acompanhar os meus colegas que acabam de entrar na empresa, explicar-lhes o que fazemos, dar-lhes formação, apoiá-los nos primeiros projetos até que ganhem autonomia suficiente para deixarem de precisar de mim! Nessa vertente, há diferenças mas também há muitas semelhanças. Por exemplo, os tais valores comportamentais de que falei antes (honestidade, etc.) são transmitidos de forma muito semelhante.
Um grande desafio! Mas também um grande prazer para mim que gosto de investigar novas tecnologias e de inovação. Acima de tudo, tento transmitir os princípios menos voláteis da computação, usando as tecnologias atuais meramente como exemplos. Porque as tecnologias mudam rapidamente mas os princípios acabam por se manter e dessa forma, não se sentirão tão perdidos quando a tecnologia mudar. Por exemplo, percebendo os conceitos da programação por objetos, é relativamente fácil aprender qualquer linguagem orientada a objetos, seja ela Java, C#, Python ou outra que ainda nem foi inventada mas que vai ser a próxima moda.
É ótimo. Aprendi imenso e continuo a aprender nestas empresas, onde tive oportunidade de participar em projetos com impacto significativo na vida de milhares de pessoas. Tive igualmente a sorte de trabalhar com profissionais excelentes que me fizeram evoluir rapidamente.
Estimulou ainda mais o bichinho empreendedor que tenho dentro de mim! E ajudou-me a olhar para Portugal com outros olhos – afinal as coisas lá fora não são assim tão diferentes. Tive oportunidade de conviver com engenheiros de alguns dos maiores gigantes da informática (google, facebook, linkedin, etc.) e não achei que fossem melhores do que os colegas com quem trabalhei em Portugal. Mas talvez aquilo que retenha mais desse programa de incubação é a atitude perante a falha. Para eles (e agora para mim), falhar é uma forma de aprendizagem e não devemos ter medo de tentar várias vezes porque eventualmente havemos de acertar. Muito diferente da atitude cautelosa que se vê por cá: “se podemos falhar mais vale nem tentar”.
Quando começa a esboçar um novo produto quais são os critérios em que pensa imediatamente?
Tento sempre responder a estas 3 perguntas, por esta ordem:
Talvez porque gosto de intersectar essas áreas e ver o que acontece, já que cada uma contribui com perspetivas diferentes para o mesmo problema. Gosto de juntar o pragmatismo do mundo empresarial (usa a tecnologia para resolver problemas atuais) ao idealismo do mundo académico (inventa tecnologia com aplicabilidade a longo prazo). Gosto de aplicar inovação a problemas mundanos do dia a dia. Gosto de reunir de manhã com um cliente resistente à tecnologia (“isto em papel é que era bom!”) e discutir ideias semi-lunáticas à tarde com um doutorado em inteligência artificial. E, de vez em quando, tenho sorte e encontro pontes entre estes mundos aparentemente desconexos. E a magia acontece. Como aconteceu por exemplo com o projeto Spreadd, cuja ideia surgiu durante a minha tese de doutoramento e foi contretizada na Opensoft.
Ter um pé em cada mundo (académico e empresarial) permite-me perceber melhor a tensão que por vezes se cria entre eles. As empresas querem licenciados/mestrados prontos a produzir imediatamente e as universidades não querem dar meramente uma formação demasiado prática que se esgote em poucos anos. Ambas as perspetivas estão corretas mas urge encontrar um equilíbrio entre elas. Este equilíbrio é complexo e difícil mas os países que o conseguem fazer estão na linha da frente em produção tecnológica. Os dois mundos têm que se misturar mais, deixar o paradigma do “sai de um para entrar no outro” e passar para o “ora estou num ora estou no outro”.